Você já reparou que ao adicionar água ao uísque, que reduz sua porcentagem de álcool, se revelam novos e sutis sabores? Ou que uma taça de vinho tinto tem menos sabor frutado do que suco de uva sem álcool?
Já que nosso assunto principal é vinho, comecemos por inalar profundamente o vinho que está na sua taça para compreender este processo. Você pode descrever os aromas que detecta? Frutas secas, frutas frescas, flores, grama, madeira e/ou especiarias? Esqueça os caríssimos kits atopetados de aromas artificiais tipo morango de xarope ou cereja de balinha. Ou vice-versa. Uma boa maneira de treinar seu cérebro e aumentar a sua memória olfativa é treinar em feiras, jardins, floricultura e lojinhas de temperos.
Esta lojinha de temperos pode ser um banquete de aromas.
Graças ao nosso sentido do olfato, podemos detectar até 10.000 odores diferentes, embora não possamos identificar todos eles. Isto acontece por causa do “limite de detecção” que é a concentração mínima de um aroma que deve estar presente para que possamos percebê-lo. Agora, atenção que isto é importante:
- Os aromas, também chamados de cheiros, odores e fragrâncias, consistem em uma ou mais moléculas de aroma. Os aromas são voláteis e atingem o nosso olfato através do intervalo entre os mesmos, ou seja, o espaço aéreo diretamente acima da superfície do líquido que vai eventualmente terminar nas nossas narinas.
2. Nós percebemos os aromas através do nariz (oronasal), bem como através da boca (retronasal). Cada vez que engolimos, a língua detecta os sabores (esse é outro papo) e os aromas sobem através pela parte traseira de nossa garganta e pela passagem nasal. Isto explica porque degustamos vinho usando uma técnica um tanto bizarra – fazendo ruído para movimentar e sacudir e arejar o vinho (e portanto, os aromas). Desta forma, não há necessidade de engolir o álcool, mas pode-se detectar melhor as moléculas de aromas voláteis do vinho.
3. Muitos fatores influenciam os odores que podemos detectar durante uma degustação, inclusive o mecanismo de deglutição e o cérebro, porém o importante aqui é que cada molécula de aroma se comporta de forma diferente em distintos solventes, dependendo de suas propriedades físicas. As moléculas de aroma hidrofóbicas são adversas à água. Elas tendem a fugir quando cercadas por moléculas de água, subindo para o tal intervalo, onde é mais fácil serem detectadas pelo nosso olfato.
4. Por outro lado, as moléculas de aroma hidrofílico têm afinidade com moléculas de água e preferem permanecer em líquidos. O álcool (etanol) tem propriedades parcialmente hidrofóbicas. Isto explica porque as moléculas hidrofóbicas dos aromas encontrados em bebidas alcoólicas ainda permanecem em seu vinho apesar da presença do álcool.
5. A proporção de líquidos – água x álcool – determina quais aromas são mais fáceis de detectar do que outros: quanto mais álcool houver em sua bebida, os aromas mais hidrofílicos escaparão para o intervalo. Por outro lado, quanto maior o volume de água, mais aromas hidrofóbicos você terá escapando do líquido e se movendo para o intervalo.
Na sua próxima degustação você pode ter certeza que o prazer da riqueza de aromas percebidos é devido também a este equilíbrio muito delicado de água x álcool. Graças à presença dele, conseguimos apreciar os sabores sutis dos nossos vinhos e bebidas alcoólicas favoritas e especialmente harmonizá-los com a comida!
Deguste os mesmos pratos com um vinho branco ou rosé (normalmente menos alcoólico) e com um tinto (tradicionalmente mais alcoólico) e tire suas próprias conclusões.
Fonte: O álcool e os aromas no vinho de Bernard Lahousse
Have you ever noticed that adding water to whiskey, which reduces alcohol percentage, reveals new and subtle flavours? Or that a glass of red wine has less fruity flavour than grape juice without any alcohol?
Since our main subject is wine, let us begin by inhaling deeply the wine which is in our glass to understand this process. Can you describe any aromas? Dried fruits, fresh fruits, flowers, grass, wood and/or spices? Forget about the expensive kits with artificial aromas of strawberry syrup or baloney cherry. A good way to train your brain and increase your olfactory memory is to train at fairs, gardens, flower and spice shops.
This spice shop can be a feast of aromas.
Thanks to our sense of smell, we can detect up to 10,000 different odours, although we can not identify all of them. This is because of the “limit of detection” which is the minimum concentration of an aroma that must be present before we can perceive it. Now, note that this is important:
1. The aromas, also called scents, odours and fragrances, comprise one or more aroma molecules. The aromas are volatile and reach our nostrils through the gap between them. It is the airspace directly above the surface of the liquid that will eventually end up in our nostrils.
2. We perceive the aromas through our nose (oronasal) and through our mouth (retronasal). Each time we swallow, our tongue detects flavours (this is another different post) and the aromas rise through the back of our throat and through the nasal passage. This explains why we taste wine using a rather bizarre technique – making noise to move, shake and aerate wine (and therefore the aromas). In this way, there is no need to swallow alcohol, but one can better detect the molecules of volatile wine aromas.
3. Many factors influence odours we can detect during a tasting, including the swallowing mechanism and the brain, but the important thing here is that each aroma molecule behaves differently in different solvents, depending on its physical properties. Hydrophobic aroma molecules are averse to water. They flee when surrounded by water molecules, rising to such an interval where it is easier to be detected by our sense of smell.
4. On the other hand, hydrophilic flavour molecules have an affinity with water molecules and prefer to remain in liquids. Alcohol (ethanol) has partially hydrophobic properties. This explains why the hydrophobic molecules of the aromas found in alcoholic beverages remain in wine despite the alcohol.
5. The ratio of liquids – water to alcohol – determines which scents are easier to detect than others: the more alcohol in your drink, the more hydrophilic aromas will escape into the range. The higher the volume of water, the more hydrophobic scents you will have escaping from the liquid and moving into the range.
In your next tasting, notice the pleasure of the richness of perceived aromas is also due to this delicate balance of water vs. alcohol. Thanks to their presence, we have been able to enjoy the subtle flavours of our favourite wines and spirits and especially harmonize them with food!
Try the same dishes with a white or a rosé wine (usually less alcoholic) and a red wine (traditionally more alcoholic) and draw your own conclusions.
Source: Alcohol and aromas in the wine of Bernard Lahousse