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2 histórias se cruzam por um instante e 4 séculos: Solar de Mateus e Mateus Rosé

Portugal tem muitas marcas de vinhos populares ao redor do mundo, por exemplo, Casal Mendes, Periquita, Calamares, Casal Garcia e o Mateus Rosé, para mencionar alguns. Curiosamente, o Mateus Rosé não é muito popular por aqui, porém foi a primeira marca portuguesa de vinho apreciada mundialmente, estando presente em 125 países, há várias décadas.

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A história do Mateus Rosé começa em 1942, quando Fernando Van Zeller Guedes, o fundador da gigante de vinhos portuguesa, Sogrape, criou um conceito distinto, apresentado numa garrafa inovadora. A garrafa foi inspirada nos cantis usados pelos soldados na Primeira Guerra Mundial. O tal vinho era diferente: cor-de-rosa, adocicado, refrescante e com uma efervescência ligeira. O rótulo foi uma homenagem ao grandioso património histórico português.

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Antiga garrafa de Mateus à venda no eBay.

O vinho especialmente concebido para os mercados norte-americano e do norte da Europa, cresceu rapidamente nas décadas de 1950 e 1960 e, no final da década de 80, junto com a versão de branco, representou quase 40% da exportação total de vinho de mesa de Portugal.

No início dos anos 70, Mateus Rosé era o vinho mais popular do mundo. A Rainha Elizabeth está até hoje entre suas fiéis consumidoras. Diz a lenda que a Rainha ficou insatisfeita com a selecção de vinhos oferecida em uma festa privada no Hotel Savoy em Londres no início dos anos 60 e pediu ao maitre que lhe trouxesse Mateus.

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Jimmy Hendrix curtindo um Mateus.

Hoje, o vinho perdeu um pouco de sua popularidade internacional, mas mesmo assim milhares  de estrangeiros (70% dos 80.000 visitantes anuais) buscam o edifício que corre o mundo no rótulo do Mateus Rosé. O Palácio ou Solar de Mateus está situado na freguesia de Mateus, concelho de Vila Real, Distrito de Vila Real e foi construído na primeira metade do século XVIII pelo 3º Morgado de Mateus, António José Botelho Mourão para substituir a casa da família, já existente no local, desde o início do século XVII.

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Um Solar para chamar de seu.

Segundo especialistas, a construção da casa, ou pelo menos de sua fachada central e decoração, é atribuída ao artista, decorador e arquiteto italiano Nicolau Nasoni (Toscana, 2 de Junho de 1691 – Porto, 30 de Agosto de 1773), considerado um dos mais significativos arquitetos da cidade do Porto durante o século XVIII.

A fachada do palácio se destaca pela dupla escadaria que conduz à porta principal, sobre a qual aparece o escudo familiar flanqueado por duas estátuas. No interior,  pode-se visitar uma biblioteca que abriga livros do século XVI, valiosos móveis, porcelanas e quadros e um pequeno museu onde se encontra 1 edição de “Os Lusíadas” de Luís de Camões, da qual só se produziram 200 exemplares. Parte da casa é fechada à visitação, pois ainda é habitada pela família.

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O palácio encontra-se rodeado por um lindo jardim cravado de belas estátuas. Chama a atenção, uma escultura de 1981, de João Cutileiro – Dorme no Lago. E muitas vinhas. Porém, o vinho rosado das garrafinhas bojudas não é feito aqui. O Palácio produz um vinho sim, mas o Porto Quinta da Costa das Aguaneiras. Exatamente, tudo que os 2 têm em comum é a fachada da mansão no rótulo mundialmente famoso e nada mais.

Em 1911, o Palácio de Mateus foi classificado como Monumento Nacional. Acima de tudo, a Casa de Mateus é hoje uma fundação privada, criada para proteger e divulgar o patrimônio histórico e fomentar a atividade cultural.

E mesmo que estas 2 histórias se cruzem por um momento muito mais breve do que eu poderia esperar, recomendo tanto a visita ao Palácio quanto uma boa garrafa de Mateus.

Fonte: Vinho Mateus Rosé e Casa de Mateus